5 de out. de 2007

Poema

- ISSO (para Tunga)-

a queda dos dentes de leite,
o oco do sino,
a sinédoque, o sem nome do que é
(o buraco),
o botoque na boca,
a dor
(o adorno),
o buraco do lábio onde o botoque cabe,
a boca do sino
(mais espaço entre a perna e o tecido),
o que faz fazer sentido,
o osso,
o espaço entre o pé e o passo
(quanto mais perto do olho menos se vê),
as pedras do chocalho,
o chacoalho dos transportes terrestres sobre as pedras,
o coalhar do leite,
a queda dos dentes,
o desmame
(o desmesmo),
a amnésia cotidiana,
o oco da caixa craniana,
o ovo do sino
(o badalo),
a sombra do símbolo,
a lembrança da silhueta do semblante,
o silêncio dos pêndulos,
o silêncio de todas as coisas que dependem de tempo,
a transparência das pálpebras,
a letra agá,
o desagá,
o lapso entre a gagueira e o eco,
a bomba agá,
a desagregação das células,
o nunca entre uma verdade e a verdade,
o nunca entre as idades,
o aqui do corpo
(o agá da hora),
o oco do coco,
a engrenagem de "uma só peça,
a cópula de um só corpo,
o oco da cabaça
(a água),
o aquilo,
o cabaço da cabeça,
o cérebro do sexo,
o excesso do zero,
o si do sino,
ei no,
no translation
(a mensagem de si para si),
a circuncisão,
o siso, o apêndice
(o que se diz sobre o que se disse),
a repetição,
o pênis,
a repartição dos genes,
a extração do minério,
o funeral do membro amputado,
o apartar depois do amolecimento,
a contração do parto,
o contra-contrário,
a anti-antítese,
o duelo dos elos,
o des-destino
(o oco da sina),
o embalo que nina,
o soco do sono,
a queda dos ossos no leito,
o nunca entre o cansaço e a preguiça,
o menos do badalo maciço no pouco do sino,
o nunca entre os sinônimos,
os nomes do anônimo,
o furo,
o cu do escuro,
a cova do vivo,
o cu do vácuo,
o cadáver futuro
(a fartura),
o olho da agulha,
o espaço entre o olho e a coisa
(o tempo preenchido),
o corpo prenhe,
o ubre cheio,
o desmaio do meio,
o black out do leite no seio,
o cadáver prematuro
(a fratura),
o agora fora de seu agouro,
o oco de fora
(o eco do sino),
o si fora de si,
o ultra-som do raio x,
a casca (da casca),
a hóstia,
a ostra
(a crosta da pérola), a última pétala da primavera,
a boca banguela,
o casco da caravela,
a outra margem do mar,
(a marca) da marca,
o oco do signo,
a queda do dente de luto,
o novo continente,
o velho conteúdo.
Esse poema é do Arnaldo Antunes, um dos artistas que mais admiro... esse poema faz refêrência ao universo poético de Tunga, um dos mais importantes artistas plásticos brasileiro!

1 Comentários:

Blogger Luiza Braz disse...

Eu adoro os poemas do Arnaldo Antunes...

E só achar 'legal' um jeito pra se viver não é bom... não é suficiente... pelo menos não pra mim.

bjos

7:37 PM  

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